AULA 7 - ALLAN KARDEC
Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon em 3 de outubro de 1804 e encontrou sua vocação na Suíça. O pai, o juiz católico Jean-Baptiste-Antoine Rivail, e a mãe, a dona de casa Jeanne Duhamel, enviaram o menino Hippolyte, de apenas 10 anos, para estudar no Instituto de Yverdon, no castelo de Zahringenem, fundado e mantido pelo pedagogo Johan Heinrich Pestalozzi. Na volta, instalou-se em Paris em 1820 e, quatro anos depois, começou a dar aulas. Lecionava matemática, física, química, astronomia, anatomia e francês. Casou-se em 09/02/1832 com Amélie-Gabrielle Boudet.
Quando as mesas girantes ficaram famosas na França, na década de 1850, o pedagogo tinha uma explicação pronta para o fenômeno. Curioso sobre os mistérios da hipnose, do sonambulismo, do magnetismo e da eletricidade, ele dizia que os corpos reunidos geravam uma força eletromagnética extraordinariamente forte, capaz de movimentar objetos. Quando conheceu o fenômeno pessoalmente, em uma terça-feira de maio de 1855, percebeu que a explicação não era tão simples.
Foi na casa da senhora Plainemaison, na Rue Grange Batelière, número 18. Ali o professor ficou impressionado. As mensagens tinham linguagem diferente da que os médiuns usavam no dia a dia e com um grau de conhecimento da vida privada dos visitantes que não tinham como possuir. O pesquisador então elencou uma nova hipótese: a de que a realidade visível não é a única que existe. E que espíritos são tão reais quanto o mundo microscópico e as forças físicas invisíveis, como a lei da gravidade.
Durante 20 meses, o professor dedicou as horas vagas a entrevistar dez diferentes espíritos, principalmente por intermédio de três garotas, Ruth Japhet, de 20 anos (que havia enchido 50 cadernos com mensagens dos espíritos), e as irmãs Julie e Caroline Baudin, de 14 e 16 anos. Na casa dos Baudin, na Rue Rochechouart, ele se apresentava todas as terças-feiras, com novas perguntas, ou as mesmas, para cruzar e checar as respostas. Ele não tinha mediunidade – aliás, foi o professor quem cunhou o termo “médium” para definir os intermediários entre os espíritos e os seres humanos.
Rivail alega que teve a oportunidade de entrevistar os espíritos do filósofo Sócrates, do apóstolo de Jesus João Evangelista, do sacerdote Vicente de Paulo e do cientista e político Benjamin Franklin. Um dos interlocutores mais recorrentes era o espírito que se apresentava com o nome Zéfiro. Foi ele quem disse ao professor que o conhecia de outras encarnações, quando Rivail era um sacerdote druida chamado Allan Kardec e morador da Gália na época do imperador Júlio César, entre 58 e 44 a.C. Rivail não queria assumir a autoria da coleção de respostas – preferia se apresentar apenas como codificador e editor.
E também queria diferenciar seu trabalho pedagógico com essa nova vertente de pesquisa. Daí Rivail ter adotado o pseudônimo que se lê na capa da primeira edição de O Livro dos Espíritos: “Princípios da doutrina espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade – segundo os ensinos dados por Espíritos superiores com o concurso de diversos médiuns – recebidos e coordenados por Allan Kardec”.
Os primeiros exemplares do livro deixaram a Tipografia de Beau, na cidade de Saint-Germain-en-Laye, em 18 de abril de 1857 – a data oficial do nascimento do espiritismo, nome criado por Kardec, apresentado da seguinte maneira: “A crença espírita, ou o espiritismo, consiste em acreditar nas relações entre o mundo físico e os seres do mundo invisível, ou espíritos”. Rapidamente, Kardec suplantaria Rivail em fama e reconhecimento: a primeira edição da obra inaugural do espiritismo, vendida a 3 francos a unidade, foi esgotada em dois meses.
Em 1º de abril de 1858, reuniu as dezenas de seguidores que havia arregimentado com a publicação do livro e fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Na Espanha, o bispo de Barcelona, Antônio Palau y Termens, mandou confiscar todos os exemplares de O Livro dos Espíritos e organizou um auto de fé: as obras foram empilhadas e queimadas em praça pública. Em 1864, a Igreja Católica inseriu a obra no Index Librorum Prohibitorum, a lista de livros proibidos para seus fiéis.
Os cinco livros fundamentais para entender o espiritismo
•O Livro dos Espíritos, 1857
Reúne as respostas de espíritos para 501 perguntas (na segunda edição, elas seriam ampliadas para 1 019 dúvidas).
•O Livro dos Médiuns, 1861
Enquanto a obra anterior era conceitual, esta é um guia prático a todas as pessoas interessadas em desenvolver a mediunidade.
•O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1864
Como o nome indica, revê as lições dos Evangelhos da Bíblia cristã com base nos conceitos espíritas.
•O Céu e o Inferno, 1865
Explica a passagem da alma para outros planos, detalha o destino dos suicidas e explica os parâmetros da justiça divina.
•A Gênese, 1868
Aborda questões filosóficas e científicas, como a origem do Universo e os milagres de Jesus, buscando respondê-las de acordo com os preceitos espíritas.
Depois de publicar uma segunda edição de O Livro dos Espíritos, bastante ampliada, e outros quatro livros, Kardec faleceu, aos 64 anos, por volta das 11h de 31 de março de 1869, quando um aneurisma se rompeu, um dia antes da mudança definitiva para a Avenida Ségur. Na época, ele trabalhava numa obra sobre as relações entre o magnetismo e o espiritismo. Os restos de Kardec estão no Cemitério Père-Lachaise.
Na lápide, ficou gravado seu novo nome, e não Rivail, e seu lema: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar. Esta é a lei”.
Após a morte de Kardec, sua esposa Amelie juntamente com os dirigentes da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, organizam alguns escritos de Kardec e publicaram Obras Póstumas em 1890.
REFERÊNCIAS
•O Livro dos Espíritos
•Obra Póstuma
•O Evangelho Segundo o Espiritismo
Vida e obra de Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita